segunda-feira, 1 de junho de 2009

Henry Ford e a medicina

Ouvindo: "Frontera", de Jorge Drexler.

Hoje foi mais um dia de visita ao medico. Duas vezes, inclusive.

Pela manha, fui em um hospital no Plano Piloto. A tosse esta me matando, tem dois dias que eu nao durmo direito. Nao teve jeito. Fui la perguntar se isso era normal da sinusite ou se carecia de nova intervencao medicamentosa (a medica que consultei na quinta nao me passou nada para tosse, apenas o antibiotico para a sinusite e um remedio contra as febres e dores de cabeca que sao consequencia da doenca). Fui em um hospital, a fila estava imensa. Fui no outro, quase do lado, a fila estava maior ainda e a coisa estava super desorganizada. Voltei ao primeiro, peguei a senha e aguardei para fazer a ficha.

A fila estava grande, mas ate que para o primeiro atendimento (apenas fazer a ficha para ser atendido) estava andando bem rapido. Entreguei minha carteirinha do convenio, com a identidade (sim, esse caos era em hospitais particulares), prestei as informacoes necessarias e ouvi um "Osenhoraguardaserchamadopelonomemelhoras" assim mesmo, sem espaco, sem pontuacao, de tao automatico que aquilo ja era para o a atendente. Cumpri a determinacao. Sentei num banco desconfortavel e aguardei ser chamado pelo nome. Com estimas de melhoras, e claro! Chamam um, chamam outro e vem a minha vez. Corro pro consultorio.

O medico era novo, nao aparentava mais do que seis meses de profissao. Isso se nao fosse estagiario. Nenhum problema nisso, ate porque fui estagiario de Psicologia e meu atendimento era de qualidade.

- Bom dia!
- Bom dia, respondi.
- Qual o problema?

Entreguei os resultados dos exames da quinta anterior e copia do receituario. Falei da tosse que muito me incomodava e nao me deixava dormir. Tudo isso na velocidade em que voces leram essas duas ultimas linhas.

- Realmente, o diagnostico da colega indica sinusite e a medicacao prescrita e a mais adequada. Este antibiotico serviria inclusive para pneumonia, caso houvesse a suspeita. Um instante que vou auscuta-lo!

Colocou o estetoscopio em meu peito e em minhas costas e me pediu para respirar. "Nenhum chiado, vou prescrever um xarope para complementar a medicacao". E acabou por ai mesmo.

Fui pro trabalho, tossi o resto do dia (ainda tusso agora a noite) e nao engoli aquela conversa. Atendimento esquisito! Nao me senti atendido, a verdade era esta!

Erika me ligou e pediu para ir busca-la. Comecou com uma crise de garganta e estava febril. Corri com ela para o hospital, o mesmo que me atendeu na quinta feira. Aproveitei a viagem e fiz uma ficha para mim tambem. Desta vez, uma medica, mas tambem novinha.

-Doutora (nao sei porque eles sao chamados assim. Mal e porcamente sao bachareis. Mas mantive a conduta social necessaria naquele momento), o meu caso e o seguinte: E rezei a ladainha, mostrando os exames de quinta, coisa e tal.

-Essa tosse e propria da sinusite.
-Tem alguma coisa pra aliviar? Tem duas noites que eu nao durmo.
-Posso prescrever um xarope, mas a tosse e normal.
-Quer dizer que tenho que tossir ate o tratamento com antibiotico acabar?
-Sim.

Acabou a minha consulta. Ela olhou pra Erika e disse:

-E o seu problema?
-Minha garganta fechou ao longo do dia. Amanheci boa, mas fiquei mal de uma hora pra outra.
-Deixe-me ver (aproximou aquela espatula de palito de picole). Realmente, esta bem fechada. Vou passar uma injecao.
-Benzetacil? - Perguntou minha esposa.
-Sim.
-Erika, voce tem alergia a penicilina ou algum outro medicamento? - Eu que perguntei isso!
-Nao que eu saiba.
-Aqui estao as prescricoes. Voce ja toma as injecoes agora.
-Doutora, que medicamento e esse, alem da benzetacil? Administracao intravenosa? Precisa mesmo disso? - Eu que perguntei de novo!!!
-Sim, para aliviar a garganta.

Levei Erika para a parte onde se administra os medicamentos e fiquei pensando: cara, nao estou num hospital. Isso e uma linha de producao, no melhor estilo do Henry Ford! Ela nem perguntou o nosso nome. De manha foi a mesma coisa! Nao se preocupou com a gente, nao mostrou empatia. Apenas quis atender. E bem capaz que, a essa hora, eles estejam num cafe conversando: "O paciente 98273B estava com sinusite". E so. Um numero apenas!

Entendo que ha um contrasenso nessa historia toda: enquanto eu espero, quero que ande rapido e chegue a minha vez. Mas, enquanto sou atendido, quero atencao, dedicacao e respeito ao meu problema. E hoje nao existe mais isso! Os medicos querem um numero, uma quantidade, uma serie de carteirinhas de convenio pra faturar no fim do mes. Danem-se os pacientes e seus historicos de vida. Sintomatologia e olhe la. Isso e a medicina moderna, minha gente!

Confesso que queria um medico de interior. Daqueles que conhece sua mae, tios e avos. E sabe que o que voce tem pode ter a ver com a familia ou com os habitos de vida que voce leva. E nao apenas te diagnosticar com base num raio-x de merda.

Abracos a todos, melhoras pra mim e minha patroa. E evitem os medicos, oucam o que eu digo!

P.S: Gostaria de fazer algumas ressalvas: alguns medicos de Morro do Chapeu ainda sao muito bons e atendem a gente do jeito certo. Aqui em Brasilia, achei tres ou quatro deles, ate agora: Dr. Gandara (cardiologista), Dr. Rodrigo (ortopedista) e Dr. Edmar (oftalmologista). Se eu lembrar de mais algum eu indico pra voces!

3 comentários:

Sara A. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sara A. disse...

Vossa Baianecência,

Henry Ford was the guy! rs Você consegue percebe-lo em toda a parte?
Tudo precisa ser rápido, ligeiro, vam'embora!!
Eu mesma corro, corro, quero nada pra amanhã não, menino! rs
Somos números, somos fichas, somos matrícula.
No entanto, no entanto... Resistir é a palavra! Vamos descoisificar as pessoas! Vamos torna-las humanas, tipo 'gente' mesmo... com defeitos e particularidades!(Hoje estou um pouco reacionária... percebeu isso também?! Liga naum...)

Saiba que:
- estou torcendo pela melhora de vocês dois muito!
- estou acompanhando o blog E divulgando! hehehe Vamos bater sua meta! Eu agarantchu!

Enfim, é o fim.

Erika Lopes disse...

E meu amor, me senti da mesma forma que voce. Principalmente na hora de ser medicada. Me aplicaram um negocio na veia sem perguntar se eu era alergica ou me explicar as reacoes adversas. Resultado: queda de pressao e mal estar a noite toda. Sorte ter meu bem para cuidar de mim.
Obrigada, meu anjo.